CEOs são responsáveis por muito mais do que pensar estrategicamente os melhores rumos para o crescimento dos negócios de grandes companhias. Eles devem respeitar a origem da empresa, exigir a excelência na governança corporativa, fortalecer a marca e o relacionamento com o mercado, conhecer e trazer para a empresa novas tecnologias, colocar clientes e acionistas no mesmo patamar, entre outras tarefas complexas.
Estudo exclusivo e inédito realizado pela consultoria DOM Strategy Partners para a revista Consumidor Moderno traz orientações para auxiliar esses líderes na árdua missão de protagonizar o crescimento da companhia, gerando lucro, receitas e avançando na participação de mercado.
A pesquisa é fruto de um levantamento com mais de 120 CEOs das mil maiores empresas que atuam no Brasil no decorrer de 2011. Sob diferentes perspectivas, o estudo coordenado por Daniel Domeneghetti – CEO da consultoria – mostra os desafios e as prioridades de um alto executivo moderno.
Quatro fatos globais sintetizam as perspectivas econômicas de curto e médio prazo e os desafios que se colocam para esses executivos. Na China, o temor da inflação e os aumentos dos custos com mão de obra reduzem as perspectivas de crescimento econômico.
No Japão, um tsunami, um terromoto e um desastre nuclear ocorridos em 2011 reduziram a capacidade produtiva e a renda da população. Enquanto isso, as revoltas populares e guerra civis no Oriente Médio geram instabilidade política e insegurança em relação à produção de petróleo. E, finalmente, a recuperação da crise financeira nos Estados Unidos e na Europa é lenta e se espalha para países de peso no cenário global como Espanha e Itália.
A economia brasileira está preparada e fortalecida para lidar com as turbulências externas. Porém existe o risco de o País ser abalado; afinal, a economia está mais integrada ao restante do mundo. Nesse cenário, a receita para manter o crescimento requer alguns ingredientes fundamentais: ter eficiência operacional, atuar em novos mercados e conquistar clientes, apostar em novos produtos e na inovação.
Reputação é Tudo
Em tempos de protestos em Wall Street contra as desigualdades da economia mundial, que inspiram manifestações semelhantes em várias partes do planeta, e da intensa movimentação nas redes sociais, a reputação de uma empresa pode ser seriamente afetada. Além do poder da palavra dos consumidores, que ecoa rapidamente na web, o risco de afetar a reputação corporativa pode ocorrer em virtude da maior exposição das marcas e das práticas corporativas.
Isso se traduz em uma ameaça concreta para as vendas, a imagem, os resultados e, consequentemente, para o preço das ações. A recomendação da DOM para lidar com isso é considerar duas frentes de atuação, adotando verdadeiras estratégias de guerra. É preciso “reforçar as defesas”, reduzindo as potenciais causas de ataque à reputação cujos pilares são a imagem e a credibilidade corporativas.
A execução disso passa por garantir a qualidade dos controles dos principais riscos operacionais da empresa nos aspectos fiscal, trabalhista, ambiental, regulatório, produtivo e de fornecimento. Também é necessário dar poder ao comitê de auditoria e garantir que a cultura de gestão de riscos vá além das fronteiras da alta gestão e se espalhem para toda a organização. Além disso, é vital atingir a excelência na qualidade dos produtos e serviços, nas práticas de sustentabilidade, na ética e na transparência.
Outra frente é “reforçar o ataque”, agindo proativamente na promoção da imagem e no relacionamento com os stakeholders. Novamente, a solução é garantir a excelência na gestão de stakeholders, no relacionamento e no atendimento aos consumidores. É importante também atuar nas redes sociais antecipando eventuais problemas e soluções.
Conselho Como Aliado
Cada vez mais os conselhos de administração assumem um papel executivo para garantir o cumprimento das iniciativas de compliance. Essa movimentação ocorre em virtude das pressões regulatórias e da exigência dos acionistas pela manutenção da reputação e credibilidade das empresas, aponta o estudo da DOM Strategy Partners.
Para lidar melhor nesse ambiente, é necessário que os CEOs construam um relacionamento forte e transparente com os membros do conselho, uma maneira de atraí-los para a sua agenda de projetos. Caso contrário, o conselho pode dificultar, e muito, o trabalho do principal executivo.
Uma dica da consultoria é estabelecer iniciativas que enfatizem a importância do compliance e garanta a robustez dos controles de detenção e prevenção de condutas ilegais. É importante comunicar de forma clara e transparente aos membros do conselho que o compliance é uma prioridade estratégica.
Desafios da Era Digital
Como gerir uma empresa que se torna cada vez mais digital e compartilhada? A cada dia parcelas crescentes do valor das empresas estão incorporadas aos fluxos da era virtual seja por meio do e-commerce ou nos processos habilitados pela infraestrutura de Tecnologia da Informação (TI). Além disso, é preciso considerar o grande volume
de informações verdadeiras e falsas sobre marcas e produtos que circula na web. Entretanto muitos executivos têm dificuldade em compreender esse “ecossistema digital” devido ao caráter técnico e também pela rápida velocidade que temas como esses evoluem, aponta o estudo.
É NECESSÁRIO QUE OS CEOS CONSTRUAM UM RELACIONAMENTO TRANSPARENTE E FORTE COM O CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO, UMA MANEIRA DE FACILITAR A AGENDA DE PROJETOS
A tecnologia deve estar no centro dos negócios e, para isso, os CEOs precisam identificar o papel e o valor que a TI e o mundo digital geram para a organização. Um exemplo é verificar de forma sistemática a aferição dos KPIs (Key Performance Indicator,indicadores-chave de desempenho) e SLAs (Service Level Agreement, acordo de nível de serviço). Isso não é somente o papel do CIO (Chief Information Officer), o executivo responsável por essa área. É preciso que a TI viabilize, diferencie e potencialize as áreas de negócios.
A solidão do topo
A pressão por resultados, o cansaço das viagens, a longa jornada de trabalho e a necessidade de ter sempre respostas para todos os problemas são questões que geram estresse em nível elevado para os principais executivos das empresas. Esse contexto é agravado pela dificuldade de compartilhar, especialmente com os subordinados, as dúvidas e as preocupações no momento de tomar decisões difíceis.
Tudo isso traz consequências como solidão, depressão, piora na qualidade de vida e do processo de tomada de decisão. Como resolver isso? Dinheiro e sucesso profissional são importantes, porém, em algum momento, o CEO precisa determinar para si próprio o que deseja, o que precisa e qual é o valor disso. Além dessa importante reflexão, pode fazer coaching e ainda participar de clubes e associações de executivos de alto nível.
Os 10 trabalhos do CEO Moderno
1. PRIORIZE O ACIONISTA ACIMA DE TUDO
• persiga resultados superiores e divida com ele a estratégia, as oportunidades e os riscos
• imponha excelência em governança cultive a confiança e a transparência
• mantenha uma comunicação contínua e eficaz
2. PRIORIZE O CLIENTE TANTO QUANTO O ACIONISTA
• conheça, defenda e valorize os clientes, agregue valor real percebido e alinhe seu marketing a ele
• relacione-se pessoalmente com os clientes mais rentáveis ou potencialmente rentáveis
• identifique os novos mercados e público-alvo e se posicione antecipadamente
3. TRATE O COLABORADOR COMO SE FOSSE UM CLIENTE
• cerque-se dos melhores talentos nas melhores posições
• contrate pessoalmente os novos líderes
• cobre resultados
• premie os sucessos e puna os fracassos
4. SEJA GUARDIÃO DA MISSÃO,VALORES E MARCAS CORPORATIVAS
• conheça e respeite profundamente a origem e a história de empresa
• lidere pelo exemplo
• compartilhe poder e decisão, mas mantenha a hierarquia
• monitore o alinhamento da cultura corporativa
• compreenda as identidades das suas marcas
5. COMPREENDA E MONITORE OBSESSIVAMENTE SEU ENTORNO COMPETITIVO
• mapeie seus stakeholders e cadeia de valor para entender seus interesses e poder de influência positiva ou negativa em seu negócio
• conheça seus concorrentes diretos e indiretos
• anteveja rupturas
• nunca descole seu negócio da economia macro e setorial
• entenda as tecnologias que impactam ou podem impactar seu negócio
• crie uma rede de informação contínua e eficaz
• participe de redes existentes
• desenvolva networking com os agentes de seu entorno CEO moderno
6. GERE RESULTADOS E VALOR
• gerencie o curto e longo prazo racionalmente e com equilíbrio
• nunca menospreze os fundamentos econômicos de seu modelo de negócio e setor de atuação
• descubra seu core business e alinhe suas competências a ele
• equilibre performance e valor, tangíveis e intangíveis
• não mude a estratégia a todo momento, mas saiba quando mudar de estratégia
• garanta a implementação do PDCA* do planejamento estratégico
• monitore obsessivamente a performance e os resultados
• alinhe os modelos de compensação e recompensa
7. MAXIMIZE A EFICÁCIA EM CUSTOS E DESPESAS
• descubra ineficiências; afinal sempre há o que cortar
• aprenda com os erros
• demita colaboradores quem não performarem
• cerque-se de fornecedores como melhores parceiros estratégicos
• não inche a empresa ou aceite investimentos supérfluos
• seja fiel ao orçamento
• seja o melhor amigo do CIO (TI) e do COO (operação) de sua empresa
• torne TI e internet (velocidade e informação) tudo que pode ser TI e internet
8. POTENCIALIZE A INOVAÇÃO
• encontre diferenciais significativos e sustentáveis perante a concorrência
• busque “oceanos azuis”
• formalize o modelo de empreendedorismo interno
• crie processos sistemáticos que possibilitem e premiem a inovação e a criatividade
• persiga rupturas relevantes ao padrão vigente na indústria
9. OPERE DE FORMASUSTENTÁVEL
• defenda causas alinhadas ao seu core business
• pratique a sustentabilidade triple bottom line em seu modelo de negócio
• instale a cultura de sustentabilidade de valor em todos os colaboradores
• aja eticamente
• respeite contratos e compromissos assumidos
• cumpra leis e regulamentações
• busque a diversidade como fonte de valor
10. TORNE-SE IRRELEVANTE CRIANDO PROCESSOS EXCELENTES
• desenvolva um “chassi corporativo” (arquiteturas, processos,organogramas, fluxos) que maximize seus vetores competitivos
• sistematize o modelo de gestão
• gerencie o conhecimento corporativo
• implemente modelos de qualidade e excelência
15 Questões que tiram o Sono do CEO Moderno
1 – Otimizar, junto aos colaboradores, o valor entre acionistas e clientes.
2 – Se desdobrar para atender a múltiplos stakeholders, interesses, influências, poder e legitimidade diferentes.
3 – Garantir governança e transparência nos níveis adequados, balanceando compliance e melhores práticas desejáveis, com a abertura de informações estratégicas e/ou sigilosas.
4 – Equilibrar o curto e o longo prazo, tornando-os um ciclo de resultados e valor.
5 – Valorizar e medir os ativos intangíveis, adequando prioridades e orçamentos em função de seu poder de diferenciação e vantagem competitiva.
6 – Utilizar e popularizar o uso da inteligência competitiva para tomar decisões melhores, mais rápidas e fundamentadas.
7 – Aprender a trabalhar em redes e estimular internamente o trabalho colaborativo.
8 – Compreender que compete a si responder pela governança do cliente, o principal ativo da companhia.
9 – Ser capaz de colaborar com competidores, quando for de interesse e/ou impositivo.
10 – Ter tempo e disciplina para pensar e analisar negócios além dos mercados e setores tradicionais de atuação.
11 – Ser capaz de identificar, compreender e escolher as melhores tecnologias e trazê-las para a companhia, a partir das várias tendências e inovações que se apresentam no mercado.
12 – Promover a inovação sistêmica, que esteja ancorada em processos robustos e métricas de premiação adequadas.
13 – Contratar e treinar diretamente os principais talentos e sucessores, estabelecendo uma agenda direta com eles.
14 – Ser capaz de ignorar irrelevâncias que parecem relevantes e descartar informações desnecessárias.
15 – Ser capaz de “cortar na própria carne” quando necessário.
Publicado Originamente na Revista Consumidor Moderno.