Já se pode notar no Brasil um número crescente de pessoas, particularmente de empresários – homens e mulheres – que passaram a considerar ser de sua responsabilidade o ato de intervir positivamente em prol de uma sociedade mais justa e solidária. É vasto o leque de motivações que une essa classe de pessoas em suas demonstrações de participação cívica e ação voluntária, sendo evidentes fatores como o senso de devolução social (give-back), consciência de civilidade e cidadania, inconformismo e mesmo descrédito nas instituições públicas que, em tese, deveriam encampar essas responsabilidades (raciocínio derivado do Contrato Social de Rousseau).
O voluntariado social é uma das formas de organizar os que querem pôr seus recursos, conhecimentos, habilidades, experiência, tempo e motivação a serviço do próximo, da redução das desigualdades de oportunidade e da diminuição das barreiras estruturais que limitam o exercício completo da cidadania de pessoas em situação desfavorável.
Historicamente, fazer trabalho voluntário significava, na maioria das vezes, um exercício pontual de caridade, geralmente motivado por compaixão, religião, vivência próxima à determinada causa ou, na ponta negativa, interesses de promoção pessoal ou controle social. Por muito tempo, o voluntariado não conseguiu se desligar da tradição filantrópica assistencialista e paternalista que marcou a formação da cultura brasileira.
Nas últimas décadas, porém, uma série de transformações mundiais e locais começou a mudar drasticamente esse panorama. Essas transformações são resultado da conjunção de diversos fenômenos, dentre os quais (i) a mudança do papel dos Estados Nacionais (que cada vez menos conseguem garantir o bem-estar social igualitário), (ii) a crise de credibilidade dos partidos políticos (que perderam legitimidade perante a população como mecanismos eficazes para a promoção das mudanças sociais necessárias), (iii) o fortalecimento gradual das organizações da sociedade civil (ONGs), como contraponto à hipossuficiência do Estado e (iv) o acirramento mais agudo dos problemas econômico-sociais – tais como desemprego e violência – que passaram a afetar diretamente não apenas os grupos de baixa renda restritos às regiões periféricas (ou países do 3º. Mundo), mas também os segmentos de média e alta renda, independente de região, ocupação e mesmo formação.
Nesse contexto, o 3º. Setor tem se apresentado aos cidadãos e empresas como um ecossistema mais compromissado com a concreta transformação das realidades sociais negativas que afetam a vida das comunidades e, portanto, dos indivíduos.
As pessoas começam a perceber que, pelo voluntariado, podem não apenas ajudar a construir uma sociedade mais equilibrada, como também encontrar uma alternativa ao modelo individualista de que se tornaram reféns. As empresas modernas, por sua vez, percebem uma oportunidade relevante de alavancar suas metas de negócios junto à sua postura de cidadania corporativa, visto que contribuir para o desenvolvimento e manutenção de seu ecossistema e para o incentivo à formação de cidadãos melhores (potenciais trabalhadores e consumidores) é missão que, de certa forma, lhe infere perenidade, além de certa dose de admiração social.
Essa conjunção de fatores vem desencadeando uma repaginação conceitual do chamado trabalho voluntário e de suas prerrogativas tradicionais.
A exemplo do que vem acontecendo em todo o mundo, muitas empresas no Brasil começam a reconhecer o valor do incentivo e apoio ao envolvimento e desenvolvimento dos seus colaboradores como agentes voluntários em suas comunidades de entorno, geralmente reforçando com compromisso pessoal e presencial o tradicional apoio financeiro dado por essas empresas aos diversos projetos ou programas sociais capitaneados por ONGs e representantes dessas comunidades. Em outras palavras, não basta financiar, há que se arregaçar a manga, literalmente. Como efeito prático, tal atitude tem resultado em satisfação pessoal para o funcionário voluntário e inúmeros benefícios para a comunidade, gerando direta ou indiretamente enormes ganhos para a empresa envolvida no processo.
Por agregar forte caráter de mudança comportamental corporativa, o voluntariado empresarial tem sido peça relevante na definição dos modelos de responsabilidade social e sustentabilidade nas empresas, contribuindo em muito na separação das formas tradicionais de filantropia social desconectadas da prática e do envolvimento da empresa com a causa de sua matriz de negócios e operações. De certa forma, uma coisa passou a ser filantropia corporativa e outra responsabilidade social… ambas válidas, mas diametralmente distintas.
Dentre diversas práticas e atribuições, um programa sistêmico de voluntariado empresarial deve comprometer a empresa a:
As empresas têm demonstrado vontade e capacidade de se adaptar às “melhores práticas” desse tipo de iniciativa, independentemente de fronteiras nacionais. Como resultado, surgiram modelos globais de responsabilidade social para empresas, dos quais o voluntariado empresarial sempre é peça relevante.
Cumpre salientar que, sob a óptica do RH, os programas de voluntariado empresarial auxiliam no desenvolvimento de habilidades pessoais, interpessoais e profissionais positivas para a empresa, promovendo lealdade e satisfação com o trabalho, além de ajudar a construir reputação positiva e atrair e reter funcionários qualificados que dispõem deste perfil, valor ou interesse.
Por fim, o Voluntariado Empresarial, como qualquer outro programa corporativo, precisa ser tocado e medido com critérios de eficiência, dispondo dos meios e recursos necessários à sua execução, gestão profissional e avaliação de resultados. Na prática, é sempre uma minoria que participa, mas é esta minoria que faz a diferença.